quarta-feira, 18 de junho de 2014

Greve em Blumenau: uma aula de cidadania


1802: primeira lei inglesa que limita jornada de trabalho, estabelecendo o limite de 12 horas para crianças em fábricas de tecido.
1819: lei inglesa proíbe o emprego industrial de crianças com menos de 9 anos.
1833: lei inglesa proíbe o trabalho noturno para menores de 18 anos.
1847: lei inglesa estabelece o limite de 10 horas para todos os trabalhadores.
1864: Primeira Internacional prioriza a luta pela jornada de 8 horas.
1919: Convenção n. 1 da OIT estabelece o limite de 8 horas e restringe o trabalho extraordinário.
1932: lei brasileira estabelece o limite de 8 horas diárias e 48 horas semanais.
1988: Constituição da República estabelece o limite de 8 horas diárias e 44 horas semanais. [i]

Esse breve histórico é para dizer que as conquistas ali descritas foram à custa de muitas lutas e greves. Os servidores em greve na Praça da Prefeitura estão nos dando uma aula de cidadania. Expondo-se ao julgamento público e dos tribunais, eles nos ensinam! Porque lutar não é só comparecer a manifestos, como os de junho/2013, e percorrer as ruas centrais de Blumenau pedindo mais educação e saúde de qualidade.

Segundo informado pelo blogueiro Jaime e Rádio Clube de Blumenau, o Prefeito pretende demitir cerca de 100 professores temporários grevistas, convocando novos profissionais NÃO graduados (pelo salário oferecido, só estes restam na lista). O artigo 4º da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho, o qual foi recepcionado pelo Brasil[ii], garante a proteção contra a demissão por participação em atividades sindicais.

Se você não é servidor, lembre-se daquela sua bandeira e cartaz empoeirados de junho/2013 e apoie aqueles cidadãos, porque a luta pela educação perpassa pela solidariedade também.

Caros professores e servidores de Blumenau: todo o meu apoio é pra vocês.


Foto: Sintraseb

Publicado no Portal Desacato, de Florianópolis.



[i] Informações extraídas de: SILVA, Alessandro da. Duração do trabalho: reconstrução à luz dos direitos humanos. In: SILVA, Alessandro da; SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; FELIPE, Kenarik Boujikian; SEMER, Marcelo. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: AJD/LTr, 2007.
[ii] Artigo 4º: 1. Os trabalhadores da Administração Pública devem usufruir de uma proteção adequada contra todos os atos de discriminação que acarretem violação da liberdade sindical em matéria de trabalho. 2. Essa proteção deve aplicar-se, particularmente, em relação aos atos que tenham por fim: (...) b) Demitir um trabalhador da Administração Pública ou prejudicá-lo por quaisquer outros meios, devido à sua filiação a uma organização de trabalhadores da Administração Pública ou à sua participação nas atividades normais dessa organização. O Decreto Federal 7.944, de 06/03/2013 promulgou a Convenção 158 da OIT.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Guerra e Paz, de Portinari

Guerra e Paz representam
sem dúvida  o melhor trabalho que já fiz.
 Dedico-os à humanidade.
(Portinari, 1957)

Foi no último dia de exposição gratuita no salão nobre do Grand Palais, em Paris, que conseguimos ver e apreciar as obras da coleção Guerra e Paz, de Cândido Portinari. Além dos painéis, a exposição compreendeu os estudos e esboços do artista, além de um vídeo-documentário sobre o processo de restauro (2010-2012), objetos pessoais e cartas.

Grand Palais (Paris)

Encomendada pelo Governo Vargas ao pintor (1952), especialmente para ser presenteada à ONU em Nova York (1956), esta coleção passou por dois fatos marcantes: o primeiro, movido pela opinião pública e um grupo de intelectuais e artistas, que apelaram ao Itamaraty para que os painéis fossem expostos no Brasil antes de ir para os EUA, a fim de que o público brasileiro pudesse vê-los pela primeira e possivelmente última vez. Assim, os painéis ficaram por poucos dias em 1956 à disposição do público, lotando o Teatro Municipal do Rio de Janeiro dia e noite com estudantes, operários, homens e mulheres.

O segundo fato foi o impedimento do artista, pelas autoridades dos EUA, de ir à inauguração da sua própria obra na ONU, em razão de sua ligação com o Partido Comunista do Brasil. Portinari faz a crítica da Guerra e celebração da Paz, e a mantém aos olhos dos ‘senhores do mundo e da guerra’, para lembrá-los que das suas decisões dependem a vida de milhões de pessoas; ‘senhores’ cegos, que em nome de uma guerra, dita fria, fizeram valer o seu capricho, impedindo o artista de ver sua grande obra no local a que se destinava. Antes mesmo da inauguração, Portinari pôde sentir que a Arte encontraria dificuldade em penetrar as mentes calculistas e gananciosas dos ‘senhores da guerra’. A par disso, chamou a nossa atenção o fato de, mesmo assim, o embaixador do Brasil estar na abertura e ‘representar’ o artista, limitando-se a dizer no dia: “Com pesar não o vejo hoje entre nós. Desejo salientar um ponto: o Brasil está oferecendo hoje às Nações Unidas o que acredita ser o melhor que tem para dar”.

Limitados às vistas de delegados da ONU desde 1956, em local não aberto ao público por razões de segurança, os painéis puderam ser vistos novamente pelo público entre 2010 e 2014[i] e agora estavam em Paris, devendo voltar ainda este ano aos EUA.

O pintor ficou 3 anos produzindo esboços, desenhos e pinturas que depois ficariam eternizados nos dois painéis da ONU. Alguns desses desenhos e pinturas também estavam presentes na exposição.


Mãe com seu filho morto (óleo sobre tela)

Considerada obra-síntese do pintor, os grandes painéis de Guerra e Paz retratam o essencial de Portinari. No painel ‘guerra’ aparece o homem morto, a mãe chorando com a criança morta, ambas inspiradas em obras anteriores d´Os Retirantes’; não mostra armas ou tanques e sim pessoas em situação de extrema dor causada pela guerra. No painel ‘paz’, podemos ver também os meninos com suas brincadeiras. Sobretudo, Portinari nos mostra o ser humano em situações de drama, ternura e solidariedade.


Detalhe do Painel 'Guerra'

Apontado como um dos artistas mais importantes do Brasil, Portinari enfim pôde ser visto e estudado por muitos brasileiros e estrangeiros, pela obra que ele considerou ser a mais importante de sua vida.

A paz para Cândido Portinari é o cotidiano sem ameaças do Estado. As mulheres em momentos de alegria, crianças com simples brincadeiras de rua, em gangorras, cordas, balanços e danças. Crianças, sendo crianças e não vítimas da guerra.


Crianças brincando (desenho-esboço) 

Fontes:
Projeto Guerra e Paz: http://www.guerraepaz.org.br/
Projeto Portinari: http://www.portinari.org.br/



[i] Apresentada em São Paulo, no Memorial da América Latina, de fevereiro a maio de 2012, foi considerada a primeira exposição blockbuster de um artista brasileiro, recebendo nos 90 dias em que esteve aberta ao público, cerca de 200 mil pessoas. Eleita a Melhor Exposição de 2012 pela Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA e vencedora do Prêmio ABERJE 2012, a mostra foi também indicada à Melhor Exposição em 2012 pelos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. Em 2013, a exposição seguiu para Belo Horizonte, marcando a reinauguração do Cine Theatro Brasil Vallourec. Considerada pela Revista Veja BH como a melhor exposição da temporada na cidade, foi visitada por mais de 80mil pessoas em 40 dias. Fonte: Jornal da Canastra.


Publicado no Portal Desacato, de Florianópolis e no Blumenews.