quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Até amanhã, Boos!


Meu querido, arrisco a dizer que sei o que você deseja neste seu momento tão delicado. Talvez não seja o que muitos esperam e queiram. Porém, não se trata de nós. É de você, da sua luta, sua vida, tão linda, admirada por tantos!

Tu me fez chorar guri, como criança pequena, na penúltima vez que te vi. Como agora, escrevendo pra ti. Mas tu me mostraste nesses poucos anos de convivência, outros olhares, tantas outras vivências, coisas tão simples, tão óbvias, mas que estavam tão longe de mim. Uma noite estrelada, no alto de um morro, sem luz de faróis de carros, postes ou de bikes. A luz da lua no chão. O silêncio e o cheiro do verde, da terra, sem fumaças ou gases. O barulho das folhas na terra e no alto das árvores, sem vozes e motores, sem asfalto. Os rios percebidos e sentidos à noite, só pelo movimento da correnteza chegando nas pedras, sem nenhuma luz. Colher tangerina das árvores de beira da estrada, mortos da fome depois de quase 70 kilômetros de pedal. Nossas conversas sérias e ao mesmo tempo divertidas sobre nossas vidas, relacionamentos; enquanto os outros já haviam pedalado a terceira ribanceira, e eu e você, empurrando nossas bicicletas, ofegantes, falantes e confidentes. Eu por ser ainda iniciante, você, por ser experiente, mas já nitidamente cansado.

Querido, estou aqui pra te dizer de peito aberto, que desejo exatamente o que você deseja nesse momento pra ti. Seja livre, como você sempre foi e quis ser.

Por isso, termino te dizendo que me lembro da última pergunta que te fiz, para então terminar esta carta:

- Quando é que você vai voltar a pedalar comigo?
- Amanhã! – disse você, convicto.

Até amanhã então, Boos. Até amanhã!