Meu querido, arrisco a dizer que sei o que você deseja neste seu momento tão delicado. Talvez não seja o que muitos esperam e queiram. Porém, não se trata de nós. É de você, da sua luta, sua vida, tão linda, admirada por tantos!
Tu me fez chorar guri, como
criança pequena, na penúltima vez que te vi. Como agora, escrevendo pra ti. Mas
tu me mostraste nesses poucos anos de convivência, outros olhares, tantas
outras vivências, coisas tão simples, tão óbvias, mas que estavam tão longe de
mim. Uma noite estrelada, no alto de um morro, sem luz de faróis de carros,
postes ou de bikes. A luz da lua no chão. O silêncio e o cheiro do verde, da
terra, sem fumaças ou gases. O barulho das folhas na terra e no alto das
árvores, sem vozes e motores, sem asfalto. Os rios percebidos e sentidos à
noite, só pelo movimento da correnteza chegando nas pedras, sem nenhuma luz. Colher
tangerina das árvores de beira da estrada, mortos da fome depois de quase 70 kilômetros
de pedal. Nossas conversas sérias e ao mesmo tempo divertidas sobre nossas
vidas, relacionamentos; enquanto os outros já haviam pedalado a terceira
ribanceira, e eu e você, empurrando nossas bicicletas, ofegantes, falantes e
confidentes. Eu por ser ainda iniciante, você, por ser experiente, mas já nitidamente
cansado.
Querido, estou aqui pra te dizer
de peito aberto, que desejo exatamente o que você deseja nesse momento pra ti.
Seja livre, como você sempre foi e quis ser.
Por isso, termino te dizendo que
me lembro da última pergunta que te fiz, para então terminar esta carta:
- Quando é que você vai voltar a pedalar comigo?
- Amanhã! – disse você, convicto.
Até amanhã então, Boos. Até
amanhã!