Por meio da interpretação de diversos mitos e histórias, este livro quase que nos impõe uma busca pela nossa essência, bem como, uma compreensão da natureza da vida-morte-vida em todas as nossas fases. Propõe o reencontro e a valorização da intuição que aos poucos foi perdida nos nossos cantos internos e precisa ser novamente ativada. Também descreve a necessidade da busca da mulher selvagem, que se encontra no rio abaixo do rio, na floresta e que vai nos alimentar, libertar e fortalecer para as experiências e vivências no mundo material.
As histórias contadas e interpretadas por Clarissa, como mencionado no Podcast “Talvez Seja Isso” (o qual recomendo fortemente ouvir em paralelo com a leitura do livro), “nos ensinam lições brutais, mas muito verdadeiras, sobre o processo de se tornar quem a gente é: existe maldade no mundo (e também dentro de nós); se alguém te oferece um caminho mais fácil, ele não necessariamente te leva pra onde você quer ir; somos responsáveis por nossas más escolhas. Esta é uma conversa sobre o que acontece com uma mulher que não luta pela própria liberdade. Ela se deixa domesticar, se esforça para ser bem comportada e acaba perdendo seus instintos. Nos mostra que qualquer tentativa de domesticar a natureza selvagem é perigosa. Quando a gente fica enjaulada por muito tempo, perde a capacidade de farejar aquilo que queremos “de verdade” e corremos o risco real de cair em armadilhas que ameaçam a nossa autonomia, nossa sanidade e, principalmente, nossa capacidade de saber o que é melhor para nós.”
Este livro nos ajuda a compreender muitas coisas, mas também não quer dizer que devemos nos limitar ao que está escrito nele. Apesar de propor um caminho, deve-se ter em mente que este caminho é ainda mais longo, partindo de uma compreensão de si, da necessária busca do autoconhecimento, para uma compreensão sistêmica da sociedade patriarcal e de valorização das lutas sociais do feminismo.
Link para o podcast "Talvez seja Isso": https://open.spotify.com/show/5qXDd2PdCgVOj8UrQYMly1
Nesses tempos em que
precisamos defender o óbvio, relutei muito em escrever sobre a figueira que luta,
com a ajuda de muitas pessoas, para manter-se viva na Rua Heinrich Hosang, em
Blumenau. Mas é necessário. É urgente.
O Ministério Público firmou
termo de ajustamento de conduta (TAC) com a construtora Torresani, com o Condomínio Porto Real e o Município de Blumenau, a fim de
garantir a metragem mínima de passeio público para os pedestres passarem na
frente do Condomínio. E a solução para a regularização, pasmem, foi determinar a
morte da árvore que está ali há mais de 40 anos. Não foi cogitada a adequação da
construção, possivelmente porque a construtora não quer arcar com os custos disso.
E pouco importou aos envolvidos que a Construtora tivesse ignorado completamente
em seus projetos a figueira ali existente.
Mas o que a Promotoria,
a Construtora, o Síndico do prédio e a Prefeitura não contavam era com as
pessoas, os coletivos e as entidades que estão resistindo a essa solução
vexatória. Um grupo foi ao Ministério Público e à Prefeitura para tentar reverter
a ordem de corte, que restou, com o perdão do trocadilho, infrutífera. Sabemos
que a ABC Pró Ciclovias fez pedido por escrito de reconsideração ao Ministério
Público, nos autos do Inquérito Civil. Mas já sabemos também que não podemos
contar apenas com a ‘sensibilidade’ da Promotora Monika Pabst.
Por
isso, entendo importante e urgente que as entidades de Blumenau que lutam por
causas ambientais e urbanísticas, busquem anular esse TAC
judicialmente. É possível sim, ajuizar ação de anulação do termo de ajustamento
de conduta contra todos os que firmaram o TAC, inclusive o Ministério Público e
o Estado de SC - como pessoa jurídica atrelada ao MP - pedindo também uma tutela
de urgência (medida liminar), a fim de impedir o corte da árvore até a decisão
final da ação anulatória.
Um TAC não pode servir
de alvará para agredir outros interesses coletivos/difusos. As árvores não podem
mais ficar marcadas para morrer em tempos de escassez de área verde, como é o
caso da região central de Blumenau, que sofre com temperaturas de mais de 40
graus no verão e com o excesso de gás carbônico. Existem alternativas de regularização, como ampliação do passeio, deslocamento de equipamentos do prédio, etc. E quem construiu e lucrou, que arque com isso. Precisamos romper paradigmas, caso contrário, não sobrará uma única árvore de grande porte na região central da cidade.
Não é só pela árvore da
rua Heinrich Hosang que escrevo. É pelo que esta árvore simboliza. Por essas pessoas que estiveram e ainda estão alertas ao seu lado, lutando para que a cidade
não se defina somente por concreto e ferro, calor e gás carbônico. É por uma
Blumenau mais humana, mais agradável, com mais árvores, parques, passeios regulares,
com transporte público de qualidade e ciclovias interligadas.
É para defender o
óbvio. (Que tempos, Brecht! Que tempos!)
Artigo publicado no Cidade Plural (Blumenau) e Portal Desacato (Florianópolis).
Saibam mais no clipping
feito pela ACAPRENA:
Sobrevida para a Figueira da Heinrich
Hosang
O corte previsto para quarta, 10/05/2016,
foi impedido por manifestantes que cercaram e subiram na árvore. Prefeitura,
Torresani e condomínio aguardam reunião com promotora Dr. Mônika Pabst,
responsável pela suspensão temporária do corte da figueira. Confirma as
reportagens e o TAC na íntegra:
Saibam mais sobre a
possibilidade de ação anulatória:
A invalidação do Termo
de Ajustamento de Conduta,
por Marcos Pereira Anjo Coutinho, Promotor de Justiça de MG, Pós-graduado em
Controle da Administração Pública - Universidade Gama Filho/RJ. Pós-graduado em
Tutela dos Interesses Difusos,
Sobre o muro instalado na Esplanada
dos Ministérios, em Brasília, a palavra e sentimento de “vergonha” resume tudo
pra mim. Este muro não foi construído com placas de metal. Ali está todo ódio e
raiva, insana e irracional, toda dicotomia rasa e superficial do bem contra o
mal. Este muro diz muito mais sobre nós, povo brasileiro, do que sobre aqueles
que habitam o Congresso e o Alvorada. Suas bases estão tão firmes, que sua
desconstrução poderá levar décadas. E aqueles que nos assistem, de qualquer
outro país que já passou por algo assim ou pior, pensam e dizem ‘como que ainda
não aprenderam’?
Muitas pessoas estão
compartilhando nas redes sociais a discussão sobre o decreto que a Presidente
Dilma editou a respeito do saque de FGTS nesse momento do desastre em Mariana,
entendendo equivocadamente que estar-se-ia isentando a Vale/BHP/Samarco de
responsabilidades ao colocar no decreto a expressão “desastres naturais”.
A lei 8.036/90, que dispõe sobre o FGTS, determina que o mesmo pode ser sacado em caso de “necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre
natural, conforme disposto em regulamento” (art. 20, XVI). O decreto 5.113/
2004, por sua vez, regulamentou o saque de FGTS em decorrência de desastres
naturais, mas não constava o tipo “rompimento de barragens”, o que
impossibilitaria o saque pelos afetados em Mariana; assim, esta inclusão pelo decreto
8.572/2015 serviu para possibilitar o saque pelas vítimas de rompimento de
barragens.
Isso não quer dizer, de
forma alguma, que o rompimento daquelas barragens vai ser considerado desastre ‘natural’,
para fins de responsabilização das empresas por negligência. Não é possível um
decreto excluir responsabilidades civis ou por crimes previstos em lei.
A crítica que considero
relevante é o fato do FGTS ser utilizado nessas situações de desastres causados
por terceiros (não naturais, portanto). No caso, as vítimas utilizarão seus recursos
pessoais de FGTS para compensar perdas causadas pela Mineradora Vale/BHP/Samarco,
quando o correto seria determinar uma multa administrativa maior à Mineradora, para
ser repassada imediatamente aos atingidos, a fim de compensar suas perdas mais
urgentes. O FGTS dos atingidos não deveria ser utilizado para isso (desastres
não naturais), pois além de manifestamente ilegal, é injusto repartir com as
vítimas os custos desta tragédia.
Conheço a Célia desde a faculdade e a considero uma grande amiga; quem a
conhece sabe de sua integridade como pessoa e juíza. Além de carinho e amizade,
tenho uma imensa admiração por seus posicionamentos políticos e de esquerda nas
questões mais relevantes (favorável à desmilitarização da polícia, contra o projeto
de lei antiterrorismo – criminalização de ativistas, protestos e movimentos
sociais, contra o projeto de lei que criminaliza o aborto, entre outros), por
sua atuação no Judiciário, como decisões envolvendo a proteção às terras
indígenas no Mato Grosso, só para citar um exemplo; e na sua atuação junto à
Associação de Juízes para a Democracia (AJD).
Célia possui posicionamentos muito mais à esquerda do que aqueles que se
autointitulam de esquerda. É uma libertária por essência. Suas ideias/ideologias
nunca caminharam juntas com a direta desse País (como o PSDB, por exemplo), e
por isso percebo claramente que ela agiu com imparcialidade, como tem ser a postura de um juiz.
Quem nada tem de integridade e imparcialidade, como quase sempre, é a
imprensa, que lançou holofotes somente sobre o filho do Lula na Operação Zelotes, uma gotícula num oceano do que está sendo investigado pela Polícia
Federal e decidido pela Juíza,muito
mais grave em relação a tantos outros empresários e empresas, como montadoras
de veículos (Ford, Mitsubishi), bancos (Santander e Safra), grupo RBS,
siderúrgica Gerdau, etc. A força-tarefa que montou a
Operação Zelotes descobriu a existência de empresas de consultoria para vender
serviços de redução ou desaparecimento de débitos fiscais no Carf - Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Se o filho do Lula for inocente, ele
não poderia estar em mãos melhores. Mas se for culpado que Justiça seja feita,
assim como para todos os corruptos do País.
A cegueira é tanta, que entendem que a Juíza pode ser julgada
por ser irmã de um prefeito do PSDB, mas o filho do Lula não pode ser
investigado por ser filho do Lula. Como se irmãos fossem necessariamente iguais
ou parecidos em atitudes e posicionamentos, o que, diga-se de passagem, acaba
ocorrendo justamente o contrário.
A injustiça, no caso, está claramente nesta insinuação de imparcialidade
daqueles que querem partidarizar tudo, independentemente se existem ou não
lastros de corrupção, tanto do lado do PSDB, como do PT; nesse fla-flu cego e
insuportável que virou a discussão política no País.
O que posso
desejar à Célia é força para suportar estas acusações infundadas
e levianas. Mantenha-se firme nas convicções. Quem te conhece, está contigo!
"O
livro de Célia Bernardes é, no Brasil, a obra que analisa
com maior detalhe e com mais profundidade o fenômeno político do racismo de Estado. (...) Assim como a pesquisadora analisa o lado
terrível do neorracismo, ela não se esquece das lutas políticas que continuam
a ser travadas pelas modificações de tudo o que existe de pesado e
opressor no mundo presente. Segundo Célia Bernardes, não temos que ficar
paralisados na crítica do mundo no qual vivemos. Existem lutas de resistências,
com novos fundamentos e motivações. Como a autora afirma (p. 152), trata-se
de uma nova perspectiva, mais otimista, mais serena, em que a modernidade é o
espaço em que no qual floresce a liberdade de ser livre, em que os sujeitos se
autoconstituem e no qual podem surgir novos saberes não imperiais, conhecimentos oferecidos a quem
queira, livremente, utilizá-los para o exercício de certas práticas
libertadoras de si." (Guilherme
Castelo Branco, professor do Laboratório de Filosofia Contemporânea da UFRJ).
"O propósito do teatro é fazer o gesto recuperar o seu sentido, a
palavra, o seu tom insubstituível, permitir que o silêncio, como na boa música
seja também ouvido.” (Clarice Lispector)
Peça Navalha na Carne - Víscera Companhia de Teatro
Gritos, sussurros e o som de
pessoas se chocando e passos apressados. Parecia que uma luta se precipitava em
algum lugar próximo. Curiosa, entrei naquele corredor estreito e comprido. Com
seu teto rebaixado, vozes e movimentos intensificavam-se a cada passo que eu
dava. De repente, um grito! Aproximei-me da sala, mas a porta estava fechada.
Hesitei, mas a curiosidade foi mais forte e vagarosamente abri a porta. Um
grupo de pessoas, suadas, com pés descalços e em frenética agitação.
Concentrados, entre expressões de alegria e dor, entregavam-se aos jogos
teatrais, buscando dentro de si as emoções e expressões necessárias. O que vi
não eram somente corpos, mas também almas em múltiplos movimentos. Seus
olhares, suas expressões, prenderam-me. Ao fim do exercício, todos exibiam uma
expressão entre a calma e a alegria, e trocavam olhares entre si, daqueles de
quem compartilha um segredo.
O teatro foi uma das
primeiras atividades culturais da então Colônia Blumenau. Organizado por Roese
Gartner, o grupo teatral Frohsinn foi alento e diversão para os colonos-espectadores
que deixaram a urbanizada Alemanha e se embrenharam nas matas do Vale do
Itajaí. O espectador, naquela uma hora ou mais que está atento e vivendo a peça
de teatro, encontra um tempo para dedicar-se a si mesmo, aos seus mais íntimos
pensamentos, suas dúvidas sobre a vida, sonhos e angústias. Tempo que
atualmente só encontramos no teatro, na leitura e em alguns shows musicais,
sendo impossível fazer isso em frente à TV ou mesmo no Cinema; da mesma forma a
maioria dos shows musicais que mais nos conduzem para um torpor do pensamento,
um esquecimento de si. Pensar a vida é necessário e a Arte pode nos
proporcionar esse encontro com a vida e com aquilo que fizemos de nós mesmos.
Se os espectadores encontram
dentro de si essa chama de humanidade, imagino quais sejam as labaredas
interiores escondidas atrás dos sorrisos cúmplices dos atores. Pude compreender
que a Arte pode ser o caminho que tanto procuramos, não apenas como
espectadores, mas atuantes, como artistas que se embrenham em seu interior e na
história da humanidade em busca daquilo que nos faz humanos. Foi no sorriso
cúmplice daqueles aprendizes de atores que comecei a procurar o meu caminho, a
minha Arte. Encontrei a literatura e ao final de cada capítulo concluído, após
viver as peripécias imaginárias junto com o investigador Otto Schurkemann,
também exibo um sorriso cúmplice de quem descobriu um prazeroso segredo.
Em Blumenau temos ótimos
grupos teatrais com apresentações constantes, como na Temporada Blumenauense de
Teatro, no Festival de Teatro, o curso de teatro na FURB e as turmas da Escola
Carona de Teatro, espaços-sonhos para espectadores e aqueles que desejam e
precisam romper sua rotina anestesiante, locais em que é possível encontrar em
uma hora por semana sorrisos cúmplices, caminhos e novos sonhos.
Meu querido, arrisco a dizer que sei o que você deseja neste seu momento tão delicado. Talvez não seja o que muitos esperam e queiram. Porém, não se trata de nós. É de você, da sua luta, sua vida, tão linda, admirada por tantos!
Tu me fez chorar guri, como
criança pequena, na penúltima vez que te vi. Como agora, escrevendo pra ti. Mas
tu me mostraste nesses poucos anos de convivência, outros olhares, tantas
outras vivências, coisas tão simples, tão óbvias, mas que estavam tão longe de
mim. Uma noite estrelada, no alto de um morro, sem luz de faróis de carros,
postes ou de bikes. A luz da lua no chão. O silêncio e o cheiro do verde, da
terra, sem fumaças ou gases. O barulho das folhas na terra e no alto das
árvores, sem vozes e motores, sem asfalto. Os rios percebidos e sentidos à
noite, só pelo movimento da correnteza chegando nas pedras, sem nenhuma luz. Colher
tangerina das árvores de beira da estrada, mortos da fome depois de quase 70 kilômetros
de pedal. Nossas conversas sérias e ao mesmo tempo divertidas sobre nossas
vidas, relacionamentos; enquanto os outros já haviam pedalado a terceira
ribanceira, e eu e você, empurrando nossas bicicletas, ofegantes, falantes e
confidentes. Eu por ser ainda iniciante, você, por ser experiente, mas já nitidamente
cansado.
Querido, estou aqui pra te dizer
de peito aberto, que desejo exatamente o que você deseja nesse momento pra ti.
Seja livre, como você sempre foi e quis ser.
Por isso, termino te dizendo que
me lembro da última pergunta que te fiz, para então terminar esta carta: