sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Operação Zelotes e a Juíza Célia Bernardes


Conheço a Célia desde a faculdade e a considero uma grande amiga; quem a conhece sabe de sua integridade como pessoa e juíza. Além de carinho e amizade, tenho uma imensa admiração por seus posicionamentos políticos e de esquerda nas questões mais relevantes (favorável à desmilitarização da polícia, contra o projeto de lei antiterrorismo – criminalização de ativistas, protestos e movimentos sociais, contra o projeto de lei que criminaliza o aborto, entre outros), por sua atuação no Judiciário, como decisões envolvendo a proteção às terras indígenas no Mato Grosso, só para citar um exemplo; e na sua atuação junto à Associação de Juízes para a Democracia (AJD).

Célia possui posicionamentos muito mais à esquerda do que aqueles que se autointitulam de esquerda. É uma libertária por essência. Suas ideias/ideologias nunca caminharam juntas com a direta desse País (como o PSDB, por exemplo), e por isso percebo claramente que ela agiu com imparcialidade, como tem ser a postura de um juiz. 

Quem nada tem de integridade e imparcialidade, como quase sempre, é a imprensa, que lançou holofotes somente sobre o filho do Lula na Operação Zelotes, uma gotícula num oceano do que está sendo investigado pela Polícia Federal e decidido pela Juíza, muito mais grave em relação a tantos outros empresários e empresas, como montadoras de veículos (Ford, Mitsubishi), bancos (Santander e Safra), grupo RBS, siderúrgica Gerdau, etc. A força-tarefa que montou a Operação Zelotes descobriu a existência de empresas de consultoria para vender serviços de redução ou desaparecimento de débitos fiscais no Carf - Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Se o filho do Lula for inocente, ele não poderia estar em mãos melhores. Mas se for culpado que Justiça seja feita, assim como para todos os corruptos do País.

A cegueira é tanta, que entendem que a Juíza pode ser julgada por ser irmã de um prefeito do PSDB, mas o filho do Lula não pode ser investigado por ser filho do Lula. Como se irmãos fossem necessariamente iguais ou parecidos em atitudes e posicionamentos, o que, diga-se de passagem, acaba ocorrendo justamente o contrário.

A injustiça, no caso, está claramente nesta insinuação de imparcialidade daqueles que querem partidarizar tudo, independentemente se existem ou não lastros de corrupção, tanto do lado do PSDB, como do PT; nesse fla-flu cego e insuportável que virou a discussão política no País.

O que posso desejar à Célia é força para suportar estas acusações infundadas e levianas. Mantenha-se firme nas convicções. Quem te conhece, está contigo! 



"O livro de Célia Bernardes é, no Brasil, a obra  que analisa  com  maior  detalhe  e  com  mais profundidade  o  fenômeno político do racismo de Estado. (...) Assim como a pesquisadora analisa o lado terrível do neorracismo, ela não se esquece das lutas políticas que continuam a ser travadas pelas modificações de tudo o que existe de pesado e opressor no mundo presente. Segundo Célia Bernardes, não temos que ficar paralisados na crítica do mundo no qual vivemos. Existem lutas de resistências, com novos fundamentos e motivações. Como a autora afirma (p. 152), trata-se de uma nova perspectiva, mais otimista, mais serena, em que a modernidade é o espaço em que no qual floresce a liberdade de ser livre, em que os sujeitos se autoconstituem e no  qual podem surgir novos saberes não imperiais, conhecimentos oferecidos a quem queira, livremente, utilizá-los para o exercício de certas práticas libertadoras de si." (Guilherme Castelo Branco, professor do Laboratório de Filosofia Contemporânea da UFRJ).