O
frio de janeiro no inverno europeu não nos impediu de fazer uma das atividades que mais
gostamos: caminhar aleatoriamente no sábado de manhã pela cidade, desta vez no
centro de Munique. Muita gente estava circulando na Marienplatz, com turistas admirando
a Rathaus, antigo prédio da
Prefeitura de Munique, e os moradores da cidade entretidos com seus afazeres
cotidianos, como as compras no comércio local e na lotada feirinha de frios e
temperos ali perto. O imponente relógio apontava 11 horas, hora esperada por
muitos: a ‘dança do Glockenspiel’ na
torre de 85m, onde 32 bonequinhos encenam batalhas e danças contando a história
de Munique.
Ao
desviar o olhar para o céu, percebi que não havia somente nuvens e um tímido
sol; drones estavam à espreita, a nos
vigiar. Minha primeira indagação foi: ‘o que aqueles drones faziam ali?’ Éramos turistas, olhando bonecos de
metal dançando ao som de sinos.
Pensei que pudesse ser uma filmagem do departamento de turismo, mas,
atenta aos seus movimentos de sobe e desce, observei ‘seu’ interesse naqueles
que levavam mochilas nas costas. Teria o drone infravermelho? Ou eram os traços
fisionômicos de alguns que despertava o interesse? Quem sabe, um coração
acelerado ou um corpo febril? Meses atrás, esse novo tipo de maquininha,
controlada à distância por jovens militares estadunidenses, conseguiu
identificar um grupo de afegãos numa festa de casamento. Presumindo se tratar
de guerrilheiros da Al Qaeda, bastou um clique para lançar uma bomba e
aniquilar dezenas, talvez centenas de vidas inocentes. Nessa guerra
‘preventiva’, poucos conseguem perceber que não há vencedores. Há sanguinários
e covardes, estes sim terroristas, que sequer ‘perderam tempo’ em justificar um
ato tão arbitrário e desumano. Tudo com a nossa complacência!
Drone ao lado da Rathaus - Prefeitura de Munique/Alemanha |
Olhando
ao vivo os drones em Munique e não
pela tela de uma TV, de tanto misturarem realidade e ficção, obnubilaram nossa
crítica sobre os Senhores da Guerra e seus perversos brinquedos. Ao capturá-los
pela lente da minha máquina fotográfica, constatei que conseguiram transformar,
nós todos, em inimigos e ameaça. Não só de Munique, como naquele momento tão
trivial. Mas de tudo e de todos; e também de nós mesmos.
E
o que podemos fazer diante desse tipo de ‘sociedade malvada’, usando o termo
empregado por Leonardo Boff, em que humanos não se tratam mais humanamente e a
barbárie corre sem rumo em velocidade galopante? Eu não sei. Mas o primeiro
passo é perceber que o nosso aval, apoio e passividade para esse tipo de vigilância
e controle, não é o caminho. Não mesmo!
Drone sob o céu de Munique/Alemanha |
Texto publicado no Portal Desacato, de Florianópolis e no Blumenews, de Blumenau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário