Nesses últimos 6 anos
(2008-2013), a cidade vem passando por momentos intensos entre pesquisas e
projetos culturais sobre ‘corpo’, sobretudo envolvendo aspectos da história e
arte em Blumenau.
Mas afinal, por que é importante estudar o Corpo? Não estamos falando de medicina, mas sim de como as pessoas lidam com seu corpo e o do outro. Temos um longo histórico de rejeição e negação do Corpo: as igrejas cristãs, em seus mais de dois milênios de existência, nos dividiram em dois: Corpo e Alma, relegando ao corpo a culpa pelos pecados, pela ruína da alma.
Mas afinal, por que é importante estudar o Corpo? Não estamos falando de medicina, mas sim de como as pessoas lidam com seu corpo e o do outro. Temos um longo histórico de rejeição e negação do Corpo: as igrejas cristãs, em seus mais de dois milênios de existência, nos dividiram em dois: Corpo e Alma, relegando ao corpo a culpa pelos pecados, pela ruína da alma.
Em Blumenau, a estreia da peça teatral ‘Volúpia’, da Cia Carona de Teatro (2008), trabalho colaborativo que
contou com cenas criadas por atores, diretor e dramaturgo, com texto de Gregory
Haertel e direção de Pépe Sedrez, causou enorme impacto na cidade. Isso porque,
segundo Haertel, a peça tocou num “ponto para onde
convergem muitos dos dogmas e certezas da nossa sociedade blumenauense que se
estende por toda a região do Vale do Itajaí: uma sociedade judaico-cristã, de
origem germânica e fortemente voltada para valores familiares, onde a repressão
e a culpa modelam um erotismo que ‘tem que sair da festa’ para acontecer”.
Com o intuito de debater estes
dogmas e preconceitos foi que se percebeu a importância de estender a temática
para outros projetos, tanto na área artística, quanto na pesquisa acadêmica; afinal, conceitos enrijecidos e silenciados precisam ser expostos e debatidos –
a fim de permitir que as pessoas pensem o seu corpo e o corpo do outro com suas
diferenças, semelhanças, dores e prazeres. Também era preciso refletir sobre o corpo
como engrenagem do capital, ora como trabalhador, ora como consumidor e também
como objeto de consumo em revistas e canais de TV.
Foi
com essa perspectiva que no ano seguinte (2009) surgiu na FURB o Coletivo ‘Clio no cio’, organizado pela
professora e historiadora Carla Fernanda da Silva e que contou com a
participação de diversos acadêmicos e professores da universidade. Este grupo promoveu
diversos encontros com pesquisadores e resultou na publicação do livro “Clio no cio: escritos livres sobre o corpo”
(Casa Aberta, 2010), obra que serviu de embrião para futuras pesquisas e
trabalhos artísticos sobre corpo em Blumenau.
Dentre eles, podemos citar o projeto fotográfico “Escritos da Carne” (2011-2012), também de
autoria/concepção de Carla, que contou com a participação de 7 fotógrafos de
Blumenau e resultou em 21 fotografias de corpos nus com inscrições de textos
considerados eróticos pelos fotografados, para que, segundo a autora, “pudessem mostrar suas múltiplas compreensões
do viver erótico”. Todo o processo que culminou na exposição fotográfica
foi uma experiência nova tanto para os fotógrafos, como para os fotografados: a tensão e nervosismo dos ensaios os obrigou a fazer uma reflexão sobre os
motivos dessas sensações; e todos eles, após estarem expostos em público na
primeira exposição em Blumenau, sentiram-se um pouco mais livres, especialmente
por terem superado o desafio de expor o seu corpo, a sua sexualidade e o que
entendem por erótico. Nos dizeres de Beli Lessa, ‘Escritos da Carne’ é “uma compilação de pensamentos, corpos,
prazeres, que podem provocar outros corpos, e está perfeitamente no espaço cultural
(local/moral) que deveria estar. Cada fotografia abre um conceito, que podem
ser reflexo da sociedade cristã-ocidental com sua mídia invasiva, como também
refletem as peculiaridades locais”.
Nesse mesmo período, foi
aprovada e iniciada uma pesquisa via CNPq sobre a história da homossexualidade feminina em Blumenau (Projeto Outras
Vozes), que já teve seus primeiros resultados publicados. Além disso, o
Corpo também foi objeto de trabalho de conclusão de curso de alguns acadêmicos da FURB: Daisy Sehnem Ceron, Luiz Guilherme Augsburger e Cristiane Theiss Lopes,
entre outros.
No final de 2012 também foi publicado o livro “Corpos Plurais: experiências possíveis”
(Carla Fernanda da Silva e Celso Kraemer
– orgs., Liquidificador, 2012), obra que reúne também boa parte de relatos
dessas experiências artísticas e resultados de pesquisas sobre corpo em
Blumenau, inclusive o ‘Outras Vozes’. Para os autores, é “um livro-experiência, onde se buscou cartografar a convivência de
pesquisa sobre o Corpo, Gênero e Arte, dividida, incentivada, debatida,
provocada por alunos e amigos: diálogos em que a curiosidade transitou entre o
ingênuo e o olhar sutil e perspicaz, por vezes malicioso, de artistas,
pesquisadores e acadêmicos”.
A Aliança Francesa de Blumenau promoveu, em evento gratuito, o lançamento do livro Corpos Plurais, além de um bate-papo sobre as diferenças entre a
sexualidade ocidental e oriental: ‘Kama-Sutra
e o cuidado de si: um outro olhar sobre o erótico indiano’- no dia 06 de março, às 19:30h, na sede da
Aliança Francesa (Alameda Rio Branco, 520, em Blumenau).
A última mostra da exposição de fotografias do Escritos da Carne, ficará disponível para visitação até o dia 05/04/2013.
Para os artistas e escritores envolvidos, uma alegria por poderem partilhar essa trajetória. Para os curiosos, um evento imperdível.
Saiba
mais:
Sobre o livro ‘Corpos Plurais: experiências possíveis’ e onde adquiri-lo:
http://escritoslivres.blogspot.com.br/
* Esse texto foi
publicado originalmente no Portal Blumenews, de Blumenau, onde a autora é
colunista.
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