Durante alguns dias, após o
primeiro protesto realizado em Blumenau, eu me calei. Naquele protesto – 20/06/13 –, enquanto alguns gritavam frases de efeito sem sentido e ofensivas, ou
cantando o hino nacional, eu silenciei. Daquela massa, também ouvi muitos
gritos fascistas, encharcados de preconceito.
Arrepiava-me de horror e medo cada
vez que ouvia o hino nacional. Medo dos significados implícitos naquele cantar
catártico e nada reflexivo, que pode reforçar ainda mais as hipocrisias e os fascismos
cotidianos, dos que pregam a não violência e igualdade de gênero, mas só até o
momento em que o seu vil metal possa estar ameaçado por pessoas que eles chamam
de ‘desordeiros’. Pessoas ‘pacíficas’
que não titubeiam em chamar uma moça de vagabunda, na primeira manifestação que
ameace um cenário-cidade e tudo o que representa: ordeira, mas preconceituosa,
muito longe da cidade que alguns ainda desejam ver e sentir: dinâmica,
inclusiva, participativa e crítica.
Foto: Reprodução |
Mas me manifestei no momento que
achava que o que se reivindicava era relevante e com proposições que podem significar
mudanças, especialmente para Blumenau. Também entoei e iniciei alguns dos
gritos-proposições, ali presos na garganta há muito tempo.
O grupo em que eu estava – pois
não éramos multidão, mas sim pequenos grupos aglomerados – também bradou contra
a homofobia felicianista, pedindo que a Câmara dos Deputados não aprove o
decreto legislativo que autoriza a cura de gays. Bradou contra os vereadores
cassados em primeira instância no Judiciário, mas que continuam lá na Câmara de
Vereadores, que não deflagra uma CPI; a favor do passe livre, porque mobilidade
urbana é urgente sim e transporte coletivo gratuito reduzirá drasticamente os
gastos com milionárias e infindáveis pontes e viadutos, o número de carros, e diminuirá
esse trânsito caótico, porque acreditem ou não, todos nós somos o trânsito.
Bradamos pelo nosso corpo livre, do poder estatal e de convicções religiosas
dos outros.
Assusta ver o fascismo juvenil, velhas
e encarquilhadas ideias, desmandos e autoritarismos em rostos tão jovens! Mas
esse fascismo, além de ter sido construído pela mídia de massa, também tem sua
grande parcela de culpa numa política governamental desenvolvimentista e
voltada ao consumo e à competição, que incentiva a satisfação no frágil acúmulo
de supérfluos bens e deixa de lado a cultura e a educação, responsáveis pela
construção do ‘ser’ e do ‘saber’. Assusta ver o Racismo de Estado que passa com
seus tratores, garimpos e hidrelétricas sobre os índios, acuados e deixados a
morrer, sob o olhar cúmplice de todos os telespectadores. É triste ver a
história que se repete no higienismo das cidades que sediarão a Copa, que
expulsam os moradores pobres, vítimas da ausência de uma política urbana e
social. Culpa de todos nós! Pagamos e pagaremos o preço, por tantos fascismos e
fascistas, brotando e florescendo.
Mas o que fazer? Se, de assalto,
os fascistas tomaram às ruas que tanto desprezavam e querem nos fazer acreditar
que não temos mais direito a elas?
Diante desse embate, os
libertários que tanto lutam e lutaram contra os fascismos, não podem recuar. Aqueles
que prezam pela democracia e reivindicam uma reforma política. Os que querem
uma cidade mais humanizada e menos motorizada. Os que não se conformam com os desmandos
na nossa cidade, que em sua
Câmara legislam três vereadores cassados em primeira
instância, que tem um suplente de vereador que hoje trabalha no Gabinete do
Dep. Jean Kuhmann e com um ex-prefeito acusado de corrupção agora presidindo o
BADESC. Precisamos estudar mais e discutir mais política! É a primeira vez que vejo nosso País preocupar-se
mais com reforma política do que com jogo do Brasil, isso em plena Copa das
Confederações. Precisamos também nos reunir, pois é preciso avançar para além
da marcha catártica nas ruas. Precisamos pensar e planejar essa rua-cidade que
se mostra querendo mudar.
Mas não bastará levar e levantar bandeiras, para depois
enrolá-las e deixá-las atrás da porta ou do guardarroupa de casa. É preciso
agir continuamente. Se você quer mudanças, seja você também a mudança,
impulsionando e participando dela. Envolva-se com movimentos e entidades
voltadas às lutas que você bradou na rua e que visam uma cidade melhor para
todos (e não pequenas reivindicações individualistas). Senão, o protesto nas
ruas será só mais um daqueles desfiles de Oktoberfest, cuja fantasia e alegoria
envelhecerão, esquecidas num canto da casa e da alma.
* Esse artigo foi publicado no Portal Desacato, de Florianópolis e no Portal Blumenews, de Blumenau.
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