segunda-feira, 19 de maio de 2014

Paris à vélo e parques: o que isso tem a ver com Blumenau?


O início do título deste breve texto – Paris à Vélo - eu copiei de um livro que leva o mesmo nome, e que comprei logo que chegamos à Paris, um guia de itinerários para ciclistas, endereços de lojas e oficinas de bike, separados por arrondissement (região). Conhecer Paris de ‘vélo’, descobrindo cada canto, parque, praça, jardim e ciclovia da cidade é realmente vibrante. Andar pelas ciclovias, por ciclofaixas privativas ou até mesmo divididas com pistas de ônibus na região mais central, nos mostra como é possível para uma grande e populosa cidade garantir espaço e segurança nas vias públicas também para os ciclistas.

Ciclovia embaixo de trilhos de viaduto - trilhos de  trem,
próximo à Biblioteca Nacional (Paris)


Ciclovia (Paris)
Ciclofaixa compartilhada (Paris)

Para quem não tem bicicleta e não conhece Paris, basta um mapa e caminhar até uma das 1.250 estações da velib que existem a cada 300 metros, com mais de 20 mil bicicletas à disposição. Nas máquinas, é só acessar o serviço com cartão de crédito que a bicicleta já é liberada. A fim de evitar a não devolução ou vandalismo, o serviço exige caução via cartão no valor de 150 euros, pré-autorizado pelo usuário.

Para garantir que o serviço fosse realmente utilizado, as ruas, avenidas, boulevares, praças e parques foram redesenhados para criar 370 quilômetros de ciclovias. E aí é que está o planejamento de cidade que não aconteceu em Blumenau. De nada adiantou criar estações para locação de bicicletas (2009) se não foram feitas ciclovias, e as poucas que existem não são decentes ou mantidas. Também não adiantou colocar o serviço com um acesso burocrático demais (cadastro na internet, pagamento por hora de uso e ter crédito no celular para ligar e pedir liberação de uma bike), como foi o caso.


Ciclovia (Paris)
Ciclovia (Paris)




Andando de bicicleta por Paris, também foi possível descobrir que apesar do movimento de carros, ônibus e bicicletas nas ruas principais, encontramos inúmeros refúgios por toda a cidade: seus parques, jardins e praças, lotados de árvores, gramados, cadeiras e bancos, nos chamam para um convite ao descanso, à leitura, uma pausa para um lanche, ou um pic nic com a família e amigos nos fins de semana.


Place des Voges (Paris)



Bois de Boulognhe (Paris)



Jardin du Luxembourg (Paris)
Place Leonard Bernstein (Paris)











Esses espaços públicos garantem qualidade de vida e constituem uma das principais atividades de lazer para seus moradores, por isso é impensável privatizar espaço público em Paris. Aí eu pergunto: eles estão errados ou estamos nós? Não é o vandalismo que impede a constituição desses espaços públicos, basta criar mecanismos para impedir isso; uma mudança de mentalidade é que é importante. Shoppings não proporcionam lazer, só mostram o quanto a nossa sociedade é consumista, está doente e decadente. Afora o Ramiro - com lotação máxima, o Parque São Francisco, a rota de lazer da XV - só nas manhãs de domingo e a boa iniciativa de um grupo de amigos para a realização da Feirinha Wollstein - que lota um domingo por mês, acabam-se aí as opções de lazer de rua e públicas na cidade.

Vender imóveis públicos para construção de hotéis ou restaurantes caros (caso do Frohsinn e um terreno ao lado do Galegão) não proporciona lazer à imensa maioria dos moradores da cidade; só aos turistas endinheirados e aos donos desses empreendimentos privados. Isso sim é vandalismo. Em Blumenau, que tristeza, reprime-se quem planta árvores! Ainda insistimos no discurso do lucro e em concepções arcaicas, que nos mostrará cada vez mais decadentes. O que isso tem a ver com Paris e as demais cidades da Europa? Nada!

Fontes:
2) Paris à Vélo: lei guide du routard. Editora Hachette, 181 páginas.
3) A silenciosa decadência dos Shoppings Centers  - Portal Outras Mídias.
4) Blumenau: onde as árvores são ilegais- Jornal de Santa Catarina.
5) Blumenau quer vender o Frohsinn (e um terreno ao lado do Galegão)"O mesmo destino do Frohsinn pode ter o terreno ao lado do Galegão, que a prefeitura tentou, sem sucesso, conceder à iniciativa privada para a construção de um hotel e um estacionamento. Desde 2009 algumas tentativas foram feitas, sem atrair interessados." - Jornal de Santa Catarina. 

Publicado no Portal Desacato, de Florianópolis.

4 comentários:

  1. ...neste compartlhamento, eu observei que quando um ônibus alcançava a bicicleta, ele reduzia a velocidade e se mantinha atrás da bicicleta e sem apressar o ciclista. Daí, eu me perguntei: Por que o motorista ñ tem pressa? Realmente, ele ñ é pressionado, pois os passageiros que estão com pressa, estes tomam o metrô, ou seja, eles têm uma alternativa veloz e segura, confortável e com quase todos os destinos. Isso também reduz a presença dos carros na rua, pois o transporte indivual é atendido

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  2. Creio que o compromisso de nosso ônibus com o horário (pela falta duma alternativa dum transporte rápido e seguro aqui em Blumenau), impossibilita que ele se mantenha atrás da bicicleta. O que você acha?

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  3. Seu Eldon, acho que a pressa dos motoristas de ônibus em Blumenau é também pelo trânsito parado, aí quando surge uma via liberada sem carros na frente, eles pisam o pé, pra tentar 'compensar' o período que ficaram presos no trânsito. Mas a maioria das vezes é por irresponsabilidade mesmo, tanto que nos casos em que alguns dos amigos ciclistas foram atropelados, foram em períodos em que o trânsito não estava no horário de pico em Blumenau. Simplesmente passam o ciclista dando finas nele, sem se preocupar com as consequências deste ato. Além do mais, eu vejo que aqui em Paris, mesmo nos horários de pico, com muitos carros parados no trânsito (18h), o comum é o motorista de ônibus buzinar, ou melhor, tocar uma campainha simpática do ônibus, avisando ao ciclista que irá ultrapassá-lo, sempre com muito cuidado. Enfim, acho que sobretudo é falta de educação e responsabilidade no trânsito em Blumenau. E acredito que seria possível estabelecer o compartilhamento de pista entre ônibus e ciclistas, desde que se faça esta pista mais larga e que haja um projeto piloto em alguma via principal de bairro, envolvendo programa de educação para todos os envolvidos, campanhas, etc. Enquanto isso não for feito, não vejo esperanças de mudança em Blumenau.

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  4. Pessoas, tive que fazer uma alteração no texto, os valores de tarifa da Velib estavam errados, por isso suprimi esta parte do texto, ok?
    Apesar de nas máquinas de acesso ao serviço constar a opção 1,70 euros – 1 jour (dia), na realidade o serviço cobrado é a cada meia hora. A primeira meia hora é de graça. A segunda meia hora custa 1 euro, a terceira meia hora vai pra 2 euros e a quarta meia hora vai pra 4 euros, mantendo-se este valor daí por diante, nas meias horas subsequentes. Desculpem o equívoco!

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