Conheci dona Maria aqui perto de casa tem mais de 1 ano... logo virou minha costureira para pequenos consertos, regados a uns bons papos, ali no início da João Pessoa. Mulher um pouco sisuda, mas nada que 2 dedos de prosa já não solte um sorriso largo.
Semana passada, levei uma jaqueta de couro que já estava mais pra cemitério do que pra uso. Ela foi dando jeito com a sua Singer de ferro, enquanto conversávamos sobre a vida. Usou a linha azul, ficou embolado, não gostou. Descosturou e refez a gola.
Dona Maria teve 10 filhos. A vida era bem mais difícil, conta ela.
Um dos partos foi dentro de um canavial e outro numa caieira de fazer carvão, este último sozinha. Locais que trabalhou duro, lá em Quipapá mesmo, entre Garanhuns e Caruaru, no agreste pernambucano. Eu comentei que passei por estas cidades quando viajei pelo Sertão no ano passado, aí ela abriu a vida.
Era de dia na agricultura e à noite com as criaturas, minha filha. Minha única menina morreu logo após o parto. Dois meninos também já se foram. Os outros rapazes estão espalhados. São Paulo, Praia Grande, Blumenau. Só um deles ficou em Quipapá.
Com 67 anos, já tem 17 netos e 1 bisneta.
Chegou em Blumenau em 2019 pra tentar o serviço de costureira, profissão que já seguia lá em Pernambuco. Foi embora na pandemia e voltou em 2021, quando um dos filhos arrumou emprego num restaurante daqui.
Menina de Deus, lá não tem serviço, não. Agora num volto mais, disse ela.
Ao terminar a jaqueta (e a nossa prosa), copiei o pix que estava escrito à caneta num papel colado na parede. Agradeci e pedi uma foto nossa, disse que ia contar um pouquinho dela e divulgar seu trabalho.
Gostou da ideia e logo posamos juntas.
Nos despedimos com ela dizendo que eu devia vir mais vezes:
- Vá com Deus, minha filha!
Ah, eu vou sim, D. Maria!
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