terça-feira, 14 de maio de 2013

Um encontro com Espinosa



Há um tempo me apresentaram o escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza e as inúmeras histórias e aventuras policiais do delegado Espinosa. A minha paixão por Espinosa foi à primeira página.

Um sujeito pacato, que mora no bairro Peixoto, local tranquilo, há poucas quadras da 12ª delegacia, bem perto de uma das praias mais famosas do mundo: Copacabana, no Rio de Janeiro. Espinosa vive num pequeno apartamento, que pertencia a sua avó e tem vista para a praça Edmundo Bittencourt. Esta praça é circundada por alguns prédios residenciais antigos, num lugar que o tempo mal passou e o homem ainda não desfigurou. Ali viveu sua infância, e os bancos, ruas e calçadas são repletas de memórias do menino Espinosa, memórias que emergem em suas caminhadas e investigações.

Praça Bairro Pexoto, Rio de Janeiro
O delegado tem seus livros em casa empilhados um sobre o outro, formando estantes improvisadas, que ele chama de ‘estantes em estado puro’, a maioria comprados nos sebos da Barata Ribeiro e no entorno da delegacia, pois passa por lá sempre e não consegue resistir. Adora comer massas no La Trattoria ou comprar esfihas e quibes na Galeria Menescal. Gosta de jantar lasanha à bolonhesa, daquela congelada que se compra no mercado pra esquentar no micro-ondas, acompanhadas de uma boa taça de vinho tinto. Jamais dispensa um bom livro pra lhe acompanhar na noite, sempre na sacada.

Um homem inteligente, culto, sensível e muito perspicaz, sem rompantes de arrogância ou violência. Não personifica a figura de um detetive cerebral, nem de um herói. Abusa da imaginação e da fantasia para solucionar os casos, mas com a consciência de que “a essência de todo crime permanece irrevelada”, citando um dos escritores que mais admira, Edgar Allan Poe.

Espinosa é daquelas raridades que não se encontram fácil por aí, por isso resolvi procurá-lo quando estive no Rio. Sem muitas dificuldades, encontrei o bairro Peixoto e a praça. Sentei num dos bancos e tentei de todo jeito, identificar o prédio dele. Olhei as árvores, os outros bancos, os balanços e as gangorras. Puxei da memória o mundo dele. Mas não consegui saber qual era o prédio! Senti o vento e a sua direção. A tranqüilidade daquele lugar beirava à magia, tal como ele dizia, e nas memórias e lembranças de tantas histórias, deu pra sentir sua presença ali.

Mas ainda não satisfeita, resolvi fazer o caminho dele até o sebo da Barata Ribeiro... E qual foi a minha surpresa e alegria ao encontrar mais uma história dele, bem ali, num de seus lugares prediletos! Nunca me senti tão perto de alguém que os homens ousam dizer que não existe. Naquele momento, eu sorri para aquele livro, como dois cúmplices, num outro mundo.


Sebo da Barata Ribeiro, Rio de Janeiro

* Esse artigo foi publicado no Portal Blumenews, de Blumenau.

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